HEBREUS 6:4-6
“Porque é impossível que os que já uma vez foram
iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito
Santo, e provaram a boa Palavra de Deus e as virtudes do século futuro, e [se – KJV] recaíram sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim,
quanto a eles, de novo crucificam [para
si mesmos – ARA] o Filho de Deus e O
expõem ao vitupério”.
Estes versículos
são chamados de a “Carta Magna” da negação da eterna segurança do crente. Este
é um exemplo de simplesmente não saber a diferença entre um Cristão desviado e
um apóstata.
O escritor da
epístola estava advertindo os hebreus (pois eram uma classe mista) de que se
alguns, que fossem meros professantes da fé Cristã, abandonassem essa confissão
e voltassem ao judaísmo (apostatasse), não haveria meios pelos quais pudessem
ser renovados ao arrependimento. Eles estariam novamente crucificando para si
mesmos o Filho de Deus, e assim seriam condenados para sempre. O “se” condicional nesta passagem é usado
para verificar a profissão entre eles e, com esperança, impedir qualquer um que
estivesse em perigo de apostatar, para que se voltasse para Cristo de uma
maneira real. Há cinco desses avisos na epístola aos Hebreus (Hb 2:1-4,
3:7-4:11, 5:11-6:20, 10:26-31, 12:15-27).
É importante
notar que o escritor, ao falar daqueles que estavam naquela horrível categoria,
muda os pronomes para distingui-los dos verdadeiros crentes. Ao falar dos
verdadeiros crentes nos versículos 1-3, ele usa a primeira pessoa do plural (“nós” e “nos”), mas quando fala daqueles que eram meros professantes nos
versículos 4-6, ele usa a terceira pessoa do plural (“os” e “eles”). Depois de falar deles, retorna ao uso das segunda e
primeira pessoas do plural (“vós” e
“nós”) nos versículos 9-20. Essa mudança de pronomes para distinguir tais
pessoas é consistente com a Escritura do Novo Testamento (Compare 1 Ts
4:15–5:11; 2 Pe 2:1–3:2; Jd 3-25, etc.)
Isso significa
que ele não está sequer falando dos verdadeiros crentes em Hebreus 6:4-6. Não
temos autoridade para dizer que aqueles mencionados nesses versículos são
verdadeiros crentes, pois não há uma única expressão usada que chegue à altura
do novo nascimento ou salvação. Num olhar descuidado, se uma pessoa não sabe a
diferença entre um que retrocede e um apóstata, ela pode honestamente assumir
que se refere a alguém que perdeu a sua salvação. No entanto, há cinco coisas
nesses versículos que se referem às bênçãos externas e privilégios ligados ao
Cristianismo que uma pessoa pode participar, mesmo sem ser salva.
Em primeiro lugar, fala dos “que uma vez já foram iluminados”. Uma
pessoa se torna “iluminada” por
ouvir a Palavra pregada (Sl 19:7-8). Tendo ouvido o evangelho, essas pessoas
aprenderam sobre o caminho da salvação e, portanto, foram iluminadas; mas isso
não significa que foram salvas. Isso seria acrescentar à Escritura. Conhecer o
caminho da salvação e crer são duas coisas diferentes.
Em segundo lugar, fala dos que “provaram o dom celestial”. Isto se
refere à revelação Cristã da verdade (2 Pe 1:1). Estas são as coisas relatadas
a nós pelo Espírito Santo enviado do céu (“aqueles
que receberam preciosa fé conosco pela justiça de nosso Deus e Salvador Jesus
Cristo” – 2 Pe 1:1 – JND). Note: não diz que eles receberam ou se
apropriaram do dom celestial; apenas que eles o “provaram”. Isso é algo superficial, não a recepção real dele. Uma
pessoa pode fazer isso ao viver entre Cristãos e ouvir a verdade ministrada.
Dizer que alguém que prova o “dom
celestial” é salvo está, mais uma vez, indo além da Escritura.
Em terceiro lugar, fala deles como sendo “participantes do Espírito Santo”.
Podemos ver como uma pessoa pode pensar que isso está se referindo a alguém que
é salvo porque todo Cristão tem a habitação do Espírito (Ef 1:13; At 5:32; Rm
5:5; 1 Ts 4:8). No entanto, um olhar mais cuidadoso mostra que não se trata da
plena participação do Espírito Santo a qual os crentes possuem. A palavra meteko na língua original, traduzida
aqui como “participantes” refere-se
a participar de algo, mas não ter um compartilhamento comum completo na coisa.
Quando é um compartilhamento completo em algo, a palavra koinoneo é usada. Essa diferença é ilustrada em Hebreus 2:14. Os “filhos” participam [koinoneo] da mesma natureza caída pecaminosa
de Adão. Mas quando fala do Senhor entrando na humanidade (a encarnação), é
dito: “também Ele participou [meteko] das mesmas coisas”. Isto nos diz que quando Ele Se tornou um
Homem, Ele não participou na humanidade ao ponto de compartilhar a natureza caída
pecaminosa de Adão. Ele foi, e é realmente um Homem – espírito, alma e corpo,
mas sem uma natureza caída. Assim, as Escrituras protegem cuidadosamente a
humanidade sem pecado de Cristo.
Entendendo o uso
desta palavra (meteko), aprendemos
que uma pessoa pode participar do Espírito Santo sem ser habitada por Ele. Isso
é apoiado pela Escritura em outros lugares. Há um aspecto da presença do
Espírito na Terra hoje em que Ele não apenas habita nos crentes, mas em que Ele também habita entre os crentes. Ele “habita
convosco e estará em vós” (Jo 14:17). Em Atos 2:1-4, diz que
o Espírito “encheu toda a casa onde
estavam assentados”, e “todos foram
cheios do Espírito Santo”. E novamente em 1 Coríntios 3:16-17, nos é dito
que o Espírito de Deus habita no templo – “vós” (plural). Um incrédulo poderia
estar no templo misturando-se entre os crentes e, assim, contaminá-lo. Estando
entre os Cristãos, onde o Espírito de Deus está trabalhando, uma pessoa
participa do Espírito Santo em um sentido exterior. Pode experimentar a luta do
Espírito com sua alma. Pode também participar das bênçãos externas do
Cristianismo que o Espírito de Deus trouxe a este mundo – a feliz comunhão, o
ensino da verdade, etc.
Essa operação
externa do Espírito de Deus é vista em Atos 7:51-54. Estevão testificou aos
líderes judeus incrédulos no Sinédrio, dizendo: “Vós sempre resistis ao Espírito Santo”. E nos diz que eles “enfureciam-se em seu coração”. O
Espírito de Deus estava operando, mas não penetrou no coração – foi um trabalho
superficial que foi apenas “para” o coração. Se você comparar isso com Atos
2:37, onde o povo foi salvo, ele diz que “compungiram-se
em seu coração”. Isso indica que houve penetração no coração, e o resultado
foi que eles foram salvos e receberam a habitação do Espírito. Se ser “participantes do Espírito Santo”
estivesse se referindo à habitação do Espírito no crente, a palavra grega koinoneo teria sido usada.
Em quarto lugar, diz que eles “provaram a boa Palavra de Deus”.
Novamente, isso não significa que eles receberam
ou creram na Palavra de Deus. Compare
Atos 2:41, 8:14, 17:11. “Provar”
algo é apenas experimentar uma pequena porção, mas não absorver e assimilar o
todo. Os incrédulos “provam” a
Palavra de Deus quando vêm e escutam a Palavra pregada.
Por último, diz que provaram “as virtudes do século futuro”. Este “século futuro” é o Milênio (Hb 2:5; Mc
10:30; Ef 1:21, etc.) Os poderes de Deus que caracterizarão aquele dia foram
vistos nos dias dos apóstolos, quando o reino ainda estava sendo oferecido aos
judeus. Havia sinais e milagres sendo demonstrados como uma amostra dos poderes
do futuro Milênio (Hb 2:4). Meros professantes podiam se misturar entre os
Cristãos daquela época e testemunhar esses poderes em primeira mão, e talvez,
até mesmo serem curados de alguma doença. Mas isso não significa que eles eram
salvos.
A passagem
continua dizendo que, se tais pessoas “recaíram”
(apostataram) depois de terem experimentado tais privilégios, seria “impossível” renová-las ao
arrependimento. Elas trazem condenação sobre si mesmas da qual não há
recuperação! Não há retorno. Aqueles que erroneamente usam essa passagem para
ensinar que uma pessoa pode perder sua salvação nem mesmo acreditam nisso! Eles
dizem que uma pessoa que perde sua salvação pode ser salva novamente. Tudo isso
vem de uma interpretação descuidada e imprecisa da passagem. Não significa nada
disso, a menos que a Escritura não signifique o que diz.
Então,
nos versículos 7-8, é ilustrado o privilégio de ser exposto às bênçãos Cristãs.
Fala de dois tipos de solo e plantas. Um “embebe
a chuva” que é despejada sobre ele e, consequentemente, “produz erva proveitosa” para seu dono.
O outro só “produz espinhos e abrolhos”,
e o fim destes era ser “queimados”
(uma figura de juízo). Ambos tiveram o privilégio da chuva caindo sobre eles.
Da mesma forma, tanto os verdadeiros crentes quanto os meros professantes estão
igualmente expostos às bênçãos celestiais que o Cristianismo trouxe a este
mundo. Observe, não há menção de o último embeber. Compare o óbvio contraste
entre embeber e provar nesta passagem.
É claro que a
passagem está se referindo a meros professantes (misturados entre os
verdadeiros crentes) estando em perigo de apostatar. Foi um aviso para eles.
Não tem nada a ver com Cristãos.
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