3) A Diferença Entre Retrocesso e Apostasia
A terceira
razão para interpretações equivocadas sobre este assunto é por não se saber a
diferença entre aquele que sofreu um retrocesso e um apóstata. Em todas as
epístolas, os escritores referem-se a dois tipos de afastamento de Deus: um é o
retrocesso e o outro é a apostasia. Ambos são ruins, mas um é infinitamente
pior. Se o leitor confundir os dois, certamente terá dificuldades sobre esse
assunto.
O retrocesso
acontece quando um crente perde a
comunhão com o Senhor, se afasta da percepção de Sua presença e segue um curso
de pecado. Ele não perde a salvação da sua alma da pena eterna de seus pecados,
nem sai da presença do Senhor, porque o Senhor nunca deixa nem abandona o Seu
povo (Hb 13:5). Mas ele perde a percepção da presença do Senhor e pode se
sentir muito distante do Senhor em sua alma. Tudo começa quando um crente
permite o pecado em sua vida e não o julga. É frequentemente, algum pequeno pecado
não julgado e, como resultado, sua comunhão é interrompida e, assim, segue-se
um processo de retrocesso.
A apostasia é um tipo diferente de afastamento
de Deus. É a renúncia de uma confissão feita uma vez e o abandono da fé Cristã.
É algo que somente um mero professante (aquele que nunca foi salvo) poderia
fazer. Para tal pessoa não há recuperação (Hb 6:4-8, 10:26-31)! Esses dois
tipos de afastamento são ilustrados em Mateus 26 em dois dos apóstolos do
Senhor – Pedro e Judas. Pedro desviou-se e foi restaurado pela fidelidade de
Deus (Lc 24:34; Jo 21:15-19). Judas apostatou e acabou perdido na eternidade
(Sl 109:7; At 1:25).
Uma pessoa que retrocede
é chamada a retornar ao Senhor (Jr 3:12); uma pessoa que apostata não é chamada
a voltar, porque não há retorno! A Bíblia diz: “O homem que anda desviado do caminho do entendimento na congregação
dos mortos repousará” (Pv 21:16). É
“impossível” (Hb 6:4) “renová-los
novamente para arrependimento” (Hb 6:6). Depois que Pedro se afastou para
longe, tornou a voltar para o Senhor; Judas afastou-se e nunca voltou para o
Senhor. Com um houve arrependimento (Lc 22:61-62); com o outro, apenas remorso
(Mt 27:3– TB).
Algumas vezes,
ouvimos alguém falar de um Cristão que tenha retrocedido como tendo caído. Não
queremos “fazer do homem um ofensor por
causa de uma palavra” (Is 29:21 – JND), mas “cair”, na Escritura, refere-se à apostasia (Hb 6:6 – TB; 2 Ts 2:3),
não ao retrocesso do crente. Pedro mostra que, embora o Cristão não possa
apostatar, ele pode ser levado pela corrente da apostasia e abandonar certas doutrinas e práticas. “Vós, portanto, amados, sabendo isto de
antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais
juntamente arrebatados e descaiais da vossa firmeza” (2 Pe 3:17). Os “abomináveis”, neste versículo,
referem-se aos apóstatas descritos anteriormente na epístola. Pedro adverte os
santos de que, se não “se guardassem”,
poderiam ser arrastados pela corrente de erro dos apóstatas. Isso não os
tornaria apóstatas, mas eles poderiam retroceder. Pedro sabia do que estava
falando quando disse isso, pois estava falando por experiência. Ele saiu em má
companhia e foi levado juntamente pelos maus caminhos deles. Então, quando
provado sobre seu relacionamento com o Senhor Jesus, ele O negou. Embora o
Cristão nunca possa “cair”, ele pode
“descair” de sua firmeza de devoção
ao Senhor (2 Pe 3:17), e dos princípios da graça (Gl 5:4).
Um Cristão tem
dois elos com Deus. Um é o seu elo de
relacionamento; não há nada que possa ser mais forte. Nenhum homem, ou
diabo, ou pecado pode rompê-lo, pois ele está eternamente seguro nesse
relacionamento. Se conhecemos o Senhor como nosso Salvador, estamos em posição
diante de Deus como estando “em Cristo”.
Nenhuma condenação pode jamais ser imputada aos que estão nessa posição (Rm
8:1). É a mesma posição de aceitação que o próprio Cristo tem diante de Deus.
Simplificando, estar “em Cristo” é
estar no lugar de Cristo diante de Deus. Todo o favor de Deus que repousa sobre
Cristo, como Ele está agora no alto na glória, repousa sobre o crente! O outro
elo que o Cristão tem com Deus é o elo de
comunhão; não há nada que possa ser mais frágil. Nosso elo de comunhão com
o Senhor pode ser quebrado pelo menor pecado. E então, se não for julgado e
confessado ao Senhor, um curso de retrocesso começa – mesmo que, a princípio,
seja um desvio muito pequeno.
É importante
entender a diferença entre essas duas coisas quando consideramos nosso assunto
porque algumas das advertências no Novo Testamento são para aqueles (os meros
professantes) que estavam em perigo de apostatar. Se confundirmos essas
advertências com exortações aos crentes, entraremos em má doutrina. Agora,
alguns podem perguntar: “Como você sabe que os verdadeiros Cristãos não podem
apostatar?” Porque a Escritura permite que os verdadeiros crentes sejam
restaurados se falharem, mas a Escritura não ensina que o apóstata possa ser
restaurado. Quando os apóstatas se afastam de Deus, é “impossível” “renová-los
novamente para arrependimento” (Hb 6:6).
Nenhum comentário:
Postar um comentário